Freguesia de Mêda, Outeiro de Gatos e Fontelonga

RESENHA HISTÓRICA
A Freguesia da Mêda, Outeiro de Gatos e Fontelonga foi criada pela reorganização administrativa das freguesias de 2013 e junta as antigas freguesias da Mêda, Outeiro de Gatos e Fontelonga. A sede da Freguesia situa-se em Mêda que é ao mesmo tempo a sede do Concelho. Mêda, recebeu foral de D. Manuel I em 1519 mantendo-se como sede do concelho até à atualidade. Outeiro de Gatos, fez parte do termo do antigo concelho de Casteição e no final do Séc. XVII integrava já o concelho de Ranhados juntamente com a localidade de Areola. Com a extinção do concelho de Ranhados, Outeiro de Gatos é definitivamente integrado no concelho da Mêda. Fontelonga deixa de fazer parte do concelho de Vila Nova de Foz Côa por Decreto de 1895 e passa a integrar o atual concelho da Mêda.

HERÁLDICA
Escudo de ouro, campanário de negro lavrado do campo com sino de vermelho rematando monte de verde carregado com gato passante de prata; o campanário entre duas fontes heráldicas. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel de prata com a legenda a negro, em maiúsculas “MEDA, OUTEIRO DE GATOS E FONTELONGA”

FESTAS E ROMARIAS
Mêda: 3º Domingo de Agosto – Senhor Bom Jesus dos Passos
Outeiro de Gatos: 2º Domingo de Agosto – Senhor Bom Jesus dos Passos
Fontelonga: 2º Domingo de Setembro – Nossa Senhora de Belém

Igreja Matriz de Invocação a São Bento – Mêda
Capela de Nossa Senhora das Tábuas
Capela do Senhor Bom Jesus dos Passos
Capela da Santa Cruz
Parque Municipal
Igreja matriz de Invocação a Nossa Senhora da Graça – Outeiro de Gatos
Capela de Santo António – Areola
Capela do Mártir São Sebastião – Areola
Capela de Santa Luzía e de Santa Bárbara – Enxameia
Portal do Séc. XVII
Solar da Casa Grande do Séc. XVIII
Igreja Matriz de Invocação a Santa Maria Madalena – Fontelonga
Capelas de Nossa Senhora de Belém
Capela de São Sebastião
Pelourinho de Meda
Fontes e Chafarizes
Cruzeiros e Alminhas
Lagares Escavados na Rocha
Necrópole Medieval de Muimentos
Sítio da Torre do Relógio

Notas Históricas

Mêda é a sede do concelho do mesmo nome, pertencente ao distrito da Guarda e à diocese de Lamego. É uma terra antiga, com origens que se perdem no tempo, situada a cerca de 760 metros de altitude, num magnífico planalto onde a Beira termina e o Douro se anuncia, fronteiro às terras de Riba Côa e de onde se vislumbram as cumeadas da Estrela para sul e do Marão para norte.
Como muito bem escreveu Frei Manuel Pimentel, em 7 de maio de 1758, a paróquia estava toda junta e unida na mesma vila, sem ter lugar algum de fora, e situada em campinas, tendo próximo da vila um rochedo com vestígios de que foi murado, a que vulgarmente se chama castelo, e no alto uma capela particular da invocação de Nossa Senhora da Assunção (e não de Santa Bárbara). Esta capela, ao que se sabe, foi derrubada no século XIX e ali edificada a atual torre para o relógio, aproveitando a pedra da capela demolida.
Com fundamento nas investigações levadas pelo Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues, a quem se deve ainda hoje o mais aprofundado estudo sobre a história e os valores culturais desta região, o nome da Mêda estará relacionado com o radical Med, Meid; com a “Quinta do Medo”, onde há vestígios de povoamento luso-romano e a tradição diz ter sido a Mêda primitiva, ou com o castro da Medelinha, ao sul dos Moínhos do Vento, a uma altitude de 800 metros, devendo ter-se em conta que na Idade Média o topónimo Mêda aparece grafado Ameda, Almeda e Amida. Leite de Vasconcelos refere a existência de uma tribo lusitana fixada nesta região que em 48 A.C. foi atacada por Cássio Longino e suas tropas, tendo os medobrigenses retirado para os Montes Hermínios. Júlio César, no cap. XLVII-1.2, no De Bello Alexandrino Comentarii faz uma longa referência aos medobrigenses, infirmando a referência de Leite de Vasconcelos. Aquele ilustre investigador e autor da monografia “Terras de Mêda – Natureza e Cultura”, o Prof. Adriano V. Rodrigues, tem defendido, e sem controvérsia vem demonstrando, que os atuais medenses são os sucessores dos valentes medobrigenses que foram os últimos a resistir aos romanos e depois forçados a contribuir para a construção da famosa Ponte de Alcântara sobre o Tejo, onde, aliás, o seu nome se encontra referido numa inscrição latina ali colocada, em singular sequência que indica um percurso de sul para norte.
Caberá fazer uma referência ao testamento de D. Flâmula, sobrinha do Rei Ramiro II, de Leão, (século XI) pelo qual, entre outros bens, deixou para obras de beneficência “nostros castellos esse Trancoso, Moravia, Longrovia, Neuman, Vininata, Amendula, Pena de Dono, Alcobria, Semorzelli, Caria…”, havendo recentemente quem considere que “Amendula”, (ou Amindula), localidade ali referida, mais não será que a nossa atual Cidade da Mêda, infirmada de certo modo pela proximidade geográfica das localidades.
Porém, e como diz Adriano Vasco Rodrigues, “A Mêda [Al-Meda, Ameda e Amida] nos alvores da nacionalidade portuguesa era de todas as actuais freguesias do concelho o mais insignificante lugarejo. Um cenóbio beneditino instalado junto de uma fonte, no sopé do morro granítico onde agora está a torre do relógio, assinalava a presença cristã e o direito ao celeiro. A principal riqueza era o trigo e os gados, que pertenciam à Ordem dos Beneditinos.”
É com a Ordem de S. Bento que a Mêda reinicia o processo da sua identidade e do seu desenvolvimento. É, de facto, com os beneditinos que se constrói a primeira igreja, de traça românica, base do atual templo. Sob S. Bento ou depois sob S. Bernardo do Claraval, os monges brancos sabiam escolher as terras mais produtivas do ponto de vista agrícola. A Meda aprendeu com eles a sua regra de oiro – “ora et labora” – , com eles crescendo paulatinamente, só se desenvolvendo de facto a partir do século XV.
Dos beneditinos eram os principais produtos, enquanto não foram parar às mãos da Ordem dos Templários, e mais tarde, depois de 1319, para as da Ordem de Cristo.
Para o Prof. Adriano Vasco Rodrigues, Os Templários deixaram algumas marcas na Mêda, desde a lembrança de algumas cruzes nas portas das casas sitas na zona mais antiga da Vila (o que indica que alguém daquela família participou numa cruzada). Outros autores asseguram que esses cruciformes são marcas da comunidade judaica representado a presença de Cristãos Novos. Também na Capela da Senhora das Tábuas, que terá sido fundada pelos Templários e depois remodelada nos séculos XVI, XVIII e XX podemos encontrar os seus testemunhos. Como nos ensina o Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues, a invocação mariana terá origem numa pintura de Nossa Senhora, num tríptico de madeira. O pavimento interior é feito em mosaico, figurando folhas de palmeira ao gosto oriental. Ali foram utilizadas, em lugar das pedras, vértebras humanas, certamente por influência das capelas dos ossos, ao gosto dos franciscanos. O estilo deste pavimento faz lembrar pavimentos semelhantes em igrejas cristãs na Palestina, pelo que terão sido os Cruzados a trazer este modelo. Aliás, no retábulo ali existente ainda se encontram restos de pintura de primitivos portugueses. Alguns ex-votos podiam ser vistos, ainda não há muito, no interior da capela, principalmente figurativos de cera ou madeira representando braços, pernas, mãos e pés.
No sopé do morro do Castelo, perto do pelourinho manuelino (a que falta a pirâmide octogonal, em gaiola, derrubada por um ciclone na década de 1940), a Ordem dos Templários construiu uma torre que servia de celeiro. Numa sala das Casas Novas, da Família Corrêa de Lacerda, na Rua do Passeio ou Corredoura, na Meda, é possível admirar ainda uma pintura a fresco, que dá uma ideia de como era essa construção. A torre, por desnecessária, veio a ser derrubada nos princípios do século XIX, servindo muitas das suas pedras para construir o velho Tribunal.
O pároco da Mêda era freire apresentado pela Mesa da Consciência da Ordem de Cristo, com o título de Vigário. Tinha coadjutor, também freire da mesma Ordem. Mas em 1758 a descrição da igreja matriz já é diferente da que se faz no relatório da Visitação da Ordem em 1507; de facto, sobre a antiga igreja românica já tinha sido construída, nos alvores do século XVII, o templo atual.
S. Bento (e não S. Bernardo) continua a ser o orago. No século XVIII há registo das irmandades da Senhora do Rosário, das Almas e do Santo Pastor.
D. Manuel I, o Venturoso, entre os forais novos da Beira, concedeu foral à então “Vila de Meda, Comenda da Ordem de Cristo”, tornando-a concelho sobre si mesmo em 1 de Junho de 1519.
O crescimento urbano da Mêda, nos séculos XVI e XVII – segundo o Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues – está ligado à economia cerealífera do centeio e do trigo, pesando também a produção da carne, de queijo e de lã. No século XVIII a Meda teve outro surto de desenvolvimento urbano motivado pela lã, pelo pão e pela produção doméstica da seda. O dinheiro que então entrou na vila fez-se sentir na construção de imóveis. A produção do vinho passou gradualmente a pesar na economia, sendo atualmente a atividade agrícola de maior peso.
Com o liberalismo, na segunda metade do século XIX, o concelho da Mêda começou a tomar outra forma e a Vila a ter um desenvolvimento desusado. Ainda que não recebesse de imediato todas as localidades que hoje integram o Município, desde logo, a partir de 6 de novembro de 1836, começa o concelho da Meda a apresentar uma nova configuração.
A história dessa evolução patenteia-se, com muitos e ricos pormenores na obra “O Concelho de Meda – 1838-1999” da autoria do Dr. Jorge António de Lima Saraiva. Durante esse período, e segundo este autor, “o Município de Meda criou os mecanismos essenciais ao bom funcionamento de um Município moderno, embora de uma forma muito ténue. As competências eram vastas e variadas, mas a área de intervenção muito limitada, em parte devido à política centralizadora desenvolvida pelo estado Liberal.” Abre-se então a estrada para Trancoso, da Meda até À-do-Cavalo, procede-se à expropriação de terrenos para tornar a Praça da Igreja mais espaçosa e higiénica, constrói-se a Escola Conde de Ferreira, o edifício das Caldas de Longroiva e o cemitério de Ranhados, criam-se escolas em Casteição, Prova e Ranhados, constroem-se Chafarizes (o do Largo da Igreja, entre outros). Tudo isto com muita instabilidade política que leva a acertos e desacertos com delimitações de concelhos e comarcas.
É em 1875 que a Mêda é escolhida para cabeça de comarca. Com efeito, a divisão judicial publicada em 12 de novembro de 1875, reforça perante os seus vizinhos a posição do concelho da Mêda. Foi nesta data – 12 de novembro – que durante muitos anos, até 1952, se comemorou como feriado municipal da Mêda.
Não menos agitado foi o período pós-monárquico em terras da Mêda. A Comissão Administrativa Republicana do concelho da Meda tomou posse em 13 de outubro de 1910. As finanças municipais estavam asfixiadas, mas, ainda assim, foi possível adquirir por 6.016$00 o edifício atual dos Paços do Concelho ao Dr. António Maria Homem da Silveira Sampaio de Almeida e Melo.
Mais recentemente, em 26 de janeiro de 2005 a Vila é elevada a Cidade.
Outeiro de Gatos foi uma das freguesias que agrupou esta nova União de Freguesias. É uma localidade de agradável aspeto, de campos verdejantes, cobertos de vinhas, olivais e amendoais. É atravessada pela Estrada Municipal 601, que, partindo da Mêda e passando por esta localidade, se encaminha para o Aveloso, um pouco ao longo da Ribeira Teja, e depois se encaminha para a Prova, daí fazendo ligação com terras dos concelhos de Trancoso e Sernancelhe. Os lugares da Areola e da Enxameia eram já suas anexas enquanto freguesia.

Outeiro de Gatos fazia parte do termo do antigo concelho de Casteição e a sua história, tal como a do lugar dos Chãos, está intimamente relacionada com a sede daquele concelho extinto pela Reforma Setembrista, em 6 de novembro de 1836.
Em 1527, o censo régio da população registava 6 moradores na “quinta de Outeiro de Gatos”.
D. Joaquim de Azevedo, na História Eclesiástica da Cidade e Bispado de Lamego, fidalgo capelão da Casa Real e abade de Cedovim, nos finais do Século XVIII e princípios do Século XIX, descreve Outeiro de Gatos da seguinte forma: “… no termo de Casteição, dista de Lamego 10 léguas, de Lisboa 59; curato de Nossa Senhora da Graça, que renderá 60$00 réis, apresentado pelo Abade de Casteição; tem capelas de S. Sebastião, Nossa Senhora do Desterro, na quinta de Enxameia; Nossa Senhora do Amparo, na quinta do Desembargador Caetano Saraiva; há nesta freguesia um grande campo do concelho, chamado Tecedeira, que os lavradores por devoção fabricam para o culto divino, e do que produziu um ano se fizeram os dois pequenos, mas bons sinos da igreja; produz a terra muitos gados, castanhas e pão; tem 168 fogos, almas 401.”
No final do Século XVII, Outeiro de Gatos estava integrado no concelho de Ranhados, juntamente com a Areola, e a sua população conjunta atingia então os números de 85 fogos e 340 almas, que se elevaram bastante à entrada de 1900, pois, nesse ano, registava o conjunto de Outeiro de Gatos e Areola 193 fogos e 705 almas. Em 1960 a localidade de Outeiro de Gatos contava 398 habitantes, e 318 habitantes 20 anos depois, tendo perdido 15% em duas décadas.
A cultura de cereais, a produção de seda e o pastoreio do gado fizeram prosperar as gentes desta localidade entre os séculos XVI e XVIII. Em breve a cultura vinícola foi ocupando terras que dantes produziam cereal, aumentando o rendimento dos habitantes. Algumas habitações existentes na localidade mostram o crescimento económico que então se verificou; a Casa dos Pessanhas é um belo exemplar, mas outras casas aqui se encontram, de abastados lavradores.
É do final do Século XVIII a construção da Igreja Matriz, de notória traça barroca. Também nesse período teve vida florescente um convento, de que há ainda alguns vestígios.
O vinho de Outeiro de Gatos tem características peculiares, sendo conhecido como um vinho perfumado. José Augusto Abrunhosa Tavares, um dos ilustres filhos desta localidade, referiu tal característica na sua obra “Um jogo da barra às portas de Almeida”, um trabalho notável por quanto nele se consigna de interesse histórico e etnográfico acerca desta região. Referência especial para um outro seu natural, cultor das letras, o Dr. Alfredo Cabral, que dirigiu o jornal “O Educador”, foi dirigente superior do Ministério da Educação em Lisboa e publicou alguns livros de poesia, utilizando admiravelmente a redondilha popular.

A localidade de Fontelonga integra o concelho da Mêda por decreto de 1895, não obstante só ter saído do de Vila Nova de Foz Côa três anos depois. A povoação é uma autêntica varanda sobre as terras do Vale da Veiga ou do famoso Graben e integra juntamente com Meda, Poço do Canto e Longroiva, a Região Demarcada do Douro. É atravessada pena EN 324 que a liga ao concelho vizinho de Vila Nova de Foz Côa.
Há notícias do povoamento da Fontelonga desde o período neolítico, face aos vestígios encontrados dessa época, como os machados polidos. Foi igualmente povoada no período da romanização, como o atestam diversas moedas encontradas no seu aro. Pertenceu á Comenda da Ordem de Cristo, que compreendia Longroiva, Meda, Muxagata, Santa Comba e Fontelonga.
A Fontelonga é um povoado interessante, com o seu casario incrustado numa meia-encosta que tira partido do sul. Abrigada dos frios do norte, ali se produzem culturas próprias das terras quentes ou mediterrânicas, como são a amendoeira, a oliveira e a vinha. Dos seus amendoais pode dizer-se que eles se tornam o melhor cartaz das amendoeiras em flor em todo o Concelho da Mêda; dos olivais, que deles se consegue extrair um dos mais finos azeites do Alto-Douro e das vinhas, que estas, por se encontrarem na Região Demarcada do Douro, contribuem poderosamente para a fama dos bons vinhos desta região, incluindo o famoso “vinho fino, generoso ou do “Porto”.
O Capelão da Casa Real e Abade de Cedovim, nos finais do século XVIII, dizia que no território da Fontelonga “se produz muito centeio, trigo, cevada, milho, feijões, grãos, garrobas”, sendo também abundantemente em gado miúdo e caça. Tinha então 129 fogos e 223 almas, enquanto no século anterior tinha apenas 100 fogos mas 400 almas. Porém, no ano de 1900 a Fonte Longa possuía no seu termo 161 fogos e 578 almas. O património arquitetónico e artístico desta freguesia merece também algumas referências. Desde logo a sua Igreja Matriz, situada num belo largo, com capela-mor e sacristia. Dedicada a Santa Maria Madalena, tem um altar de estilo barroco e altares laterais dedicados a Nossa Senhora do Rosário e ao Menino Deus. São, respetivamente, dos séculos XVII e XVIII as imagens da Padroeira e de Santo António, ali se encontrando uma cadeira paroquial que é da época de D. José I. A capela de Nossa Senhora de Belém, nas proximidades da povoação, está implantada em aprazível lugar junto da EN 324. É de construção airosa, barroca, e possui um altar da época de D. Maria I. Lá dentro se encontra a piedosa e antiquíssima imagem de Nossa Senhora de Belém, que, ainda não há muitos anos, motivava uma concorrida romagem anual na quadra da Páscoa.
Bibliografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mêda,_Outeiro_de_Gatos_e_Fonte_Longa
https://dre.pt/application/conteudo/69800924
RODRIGUES, A. Vasco; Terras de Meda – Natureza, Cultura e Património; Edição Câmara Municipal de Meda; 2ª Edição; 2002.
SARAIVA, Jorge António de Lima; O Concelho de Meda, 1838-1999; Edição Câmara Municipal de Meda; 1999.