Freguesia de Prova e Casteição

RESENHA HISTÓRICA

A aldeia de Prova integra o concelho da Mêda desde 1872, depois de ter feito parte do concelho de Penedono. Está situada num vale aprazível, bastante largo e verdejante, no sopé de uma elevação granítica conhecida por Pendão, de onde se desfruta um panorama deslumbrante. O lugar da Sapateira é uma anexa desta freguesia.

Casteição integra o concelho da Mêda e faz parte da Diocese de Lamego. Está situada no extremo SO do município, no seu limite com o de Trancoso. Dista 11 quilómetros de Mêda e encontra-se na margem direita da Ribeira Teja, a reduzida distância das localidades de Terrenho, Mendo Gordo e Torre do Terrenho, tendo para NE Paipenela, Valflor e a sede do concelho. Compreende o lugar de Chãos, antiga quinta das Chãs, a quinta do Rovico e outras, como as quintas ou casais do Figueiredo, Fonte Fria, Salgueiro, Escudeiro, Lameirões, Moiratão, Vale do Rubro, Moinho da Ponte de Bicha e Moinho da Barranca.

FESTAS E ROMARIAS

Prova: 4º Domingo de Agosto – São João Batista

Casteição: 3º Domingo de Agosto – Nossa Senhora da Vila Maior

Pelourinho de Casteição

Casa da Câmara em Casteição

Igreja Matriz de Invocação a São João Batista – Prova

Capela de São Domingos – Prova

Capela de Nossa Senhora do Pranto – Sapateira

Casa Manuelina Classificada de Interesse Público – Prova

Casa Grande da Prova

Casa de José Cardoso Século XIX

Igreja Matriz de Invocação a Nossa Senhora da Assunção – Casteição

Capela de São Pedro o Apóstolo

Capela de Santo André; de Nossa Senhora da Graça; de Nossa Senhora da Assunção e de Nossa Senhora de Vila Maior – Casteição

Capela de Santo Amaro – Chãos

Capela de Nossa Senhora de Vila Maior – Vila Maior

Casa de Influência Brasileira em Chãos

Cruzeiros e Alminhas

Lagares Escavados na Rocha

Notas Históricas

O topónimo Prova resultará de “pobra”, local povoado, termo que aparece com frequência, em pleno século XIV, nos documentos reais quando a povoação em causa não tem outro senhor além do Rei. Das terras reguengueiras como esta foi, chamava D. Dinis “a minha pobra”. Podem-se encontrar nesta localidade cruzes, gravadas em pedra ou pintadas, da Ordem dos Templários e da Ordem de Cristo.

A Igreja Matriz tem sinais dos primeiros tempos da Nacionalidade, não obstante ter sido reconstruída no século XV, por Bartolomeu Afonso, Juiz da localidade e Mestre de Obras e beneficiada com alterações feitas nos séculos XVII, XVIII e XX. O templo é de uma só nave, com altar mor e dois laterais, dedicados ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora do Rosário. O teto da capela-mor é revestido com caixotões com pinturas de santos. Estes quadros, na opinião do Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues (in “Terras de Meda – Natureza e Cultura”) são do século XVIII, evidenciando uma técnica pictórica barroca, com um certo sabor popular, e poderão ser atribuídos a Isidoro de Faria, pintor natural de Trancoso, onde fundou uma oficina de pintura. O retábulo do altar mor é de estilo joanino, uma verdadeira obra de arte, cheia de movimento como é típico do barroco. Ao centro, a tribuna ou trono, possui quatro degraus terminando na glória. Do lado direito da tribuna encontra-se o nicho do padroeiro, S. João Baptista, e, do lado esquerdo, um nicho com uma imagem de Santo António. Estas duas imagens são ladeadas, cada uma delas, por anjos-tocheiros, de um barroquismo exuberante. Os retábulos laterais são de talha, com colunas salomónicas decoradas com parras, uvas e pássaros, que se alongam pelo fuste, ao gosto tardo-renascentista. As colunas formam um arco, no cimo do qual está uma imagem de um pelicano.

  1. Joaquim de Azevedo, fidalgo capelão da Casa Real e Abade de Cedovim, no século XVIII, anotava que na Prova existiam as capelas de S. Domingos e de Nossa Senhora da Paz, bem como uma dedicada a Nossa Senhora do Pranto, na Sapateira, distante cerca de uma légua, mas no aro da então freguesia.

Em 1758, o pároco Pe. João da Fonseca Cardoso, considerava a paróquia, orago de S. João Baptista, como anexa de S. Pedro de Penedono e tinha, segundo o seu relatório, de 7 de maio desse ano, 106 fogos e 287 pessoas. Em 1900 a freguesia tinha 161 fogos e 578 habitantes. Desta freguesia partiu para diversos países, ao longo de todos os tempos, uma boa parte da sua população ativa, bastando dizer que no intervalo de 40 anos (de 1940 a 1980) perdeu 42% dos seus habitantes. Notável é o movimento demográfico entre os anos de 1960 e 1981, durante os quais a Prova perdeu 43% e a sua anexa Sapateira perdeu metade dos habitantes.

Os habitantes da Prova tinham os seus principais rendimentos no pastoreio e nas produções de centeio, milho, castanhas e vinho, tirando partido do facto de possuir algumas boas terras para pastagens, cereais e soutos, por se situar numa zona de transição geológica entre a serra e a bacia hidrográfica do Douro. Há notícia de que, em tempos idos, se produzia linho e estopa, em grande quantidade, nesta localidade.

Devem ter tido alguma importância nesta localidade os séculos XV e XVI, como o atestam algumas construções da época, na zona mais antiga da povoação, onde se podem apreciar vistosas janelas manuelinas e uma porta de arco contra-curvado. No alargamento dos ombrais da porta de uma adega danificou-se a beleza de um portal.

Notável também terá sido aqui o século XVIII, pois nesse período se construiu a Casa Grande, digna de tanto apreço e atualmente recuperada depois de ter passado por uma fase de completo abandono e degradação, pertencente à família Lacerda e onde, em visita à Família, ali esteve Oliveira Salazar em agosto de 1937. Na respetiva pedra de armas, sobrepujando a porta principal, evocam-se Cabrais, Pinheiros, Costas, Lacerdas, Cardosos e Leitões. É notável, neste Solar, a varanda coberta ou loggia, de óbvia influência italiana. Outra casa merecedora de interesse é a de José Cardoso, dos finais do século XIX.

Figura ilustre desta localidade foi o Dr. Alfredo de Lacerda, da família dos Lacerdas, distinto clínico que se dedicou ao Sanatório do Caramulo e ali criou um museu onde se encontram obras dos principais pintores portugueses e de alguns grandes pintores mundiais, a par da mais preciosa coleção de automóveis antigos existente em Portugal.

Nasceu também nesta freguesia em 22-01-1862 um apreciado escritor e poeta, José Augusto de Castro, que, tendo emigrado cedo para o Brasil, ali tomou parte ativa na questão da escravatura, publicando “Vozes populares” e “Ecos do mundo”. Tendo regressado a Portugal, fixou-se na Guarda onde fundou o semanário “O Combate”, que se publicou até 1931. Faleceu em Coimbra em 13-05-1942, deixando uma obra muito vasta. Publicou “Nuvens, Halos” (1914), “Exaltação” (1926), “Árvore em flor” (1928) e “Terra Sagrada”, todos estes em poesia; em prosa publicou “Impressionistas” (1896), “Gritos” (1901), “O Bispo” (1915), “Pela Mulher” (1916), “O inimigo” (1918), “Calvário e Tabor” (1921) e “Labaredas” (1924).

A localidade apresenta-nos um raro ordenamento urbanístico. Por outro lado, a arquitetura popular está bem patenteada nesta freguesia. No centro da localidade encontra-se o antigo largo, onde se realizavam as feiras e os divertimentos populares. Esse local encontra-se atualmente ajardinado, podendo considerar-se a “sala de visitas” da terra. Ali próximo pode ser apreciada a capela de Nossa Senhora do Livramento, com um bonito coreto ao lado.

Sobre Casteição, Igreja Matriz, de invocação ao seu orago, Nossa Senhora da Assunção, é do século XVIII e possui três altares, sendo os colaterais dedicados a S. Sebastião e à Senhora do Rosário. Segundo a informação prestada pelo respetivo Pároco em 1758, o altar-mór era considerado majestoso, sendo sobreposto com as Armas de Portugal e a Coroa Real. A capela mór, da época de D. João V, notabilizava-se como uma das mais magnificas da periferia. O Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues considera o altar-mór desta Igreja como o mais importante de entre todos os do concelho da Meda.

A paróquia, antiga abadia de Santa Maria de Casteição, provém pelo menos do século XII, pertencia-lhe o curato de Outeiro de Gatos, sua filial, e era do provimento alternado do Rei e do Bispo de Lamego.

Devem citar-se as antigas ermidas de S. Pedro e a dedicada a Santo Amaro, nos Chãos, de fundação muito antiga, que se situa em ponto elevado, favorável à defesa castreja, e a chamada Nossa Senhora de Vila Maior (suposta suevo-visigótica), entre Casteição e Outeiro de Gatos, que terá sido a primeira e de ascendente paroquial neste extenso território longitudinal do ribeiro do Vale do Covo, cuja localização terá sido preterida pela atual, ante as reduzidas limitações de Vale de Ladrões (hoje, Valflor) ou Paipenela. A romaria a Nossa senhora de Vila Maior tem lugar na segunda feira do Espírito Santo. A denotar reminiscências ligadas aos caminhos e peregrinos de Santiago de Compostela, existia no caminho de Sernancelhe, entre Casteição e Mendo Gordo a quinta do Palmeiro, designação pela qual eram conhecidos os peregrinos e onde se terá fixado um destes apoios caminheiros.

Casteição realizou desde tempos medievais a sua feira anual a Santo André, a 30 de novembro, e uma feira mensal no último Domingo de cada mês.

No aro da freguesia há idílicas paisagens, sobretudo nas proximidades da Ribeira Teja, onde se implantaram inúmeras azenhas, desde a Ponte dos Caniços até ao Moínho do Tinto, diante da Quinta de Matamá.

Pela abundante arqueologia castreja, na sua área e imediações, Casteição denota ter sido um primitivo povoamento pré-histórico. Não fica distante a “Civitas Aravorum” (Marialva) deste castro – Castai(n)ciom – que foi uma das pennelas roqueiras da estremadura do século X, que a condessa Dª. Chamôa possuía por herança de seus pais, os condes Rodrigo e Leodegúncia e que, por testamento em 960, legara ao Mosteiro Vimaranense, do qual passou depois para a Coroa, na primeira metade do século XII.

A origem do nome de Casteição é tema para especialistas, que se perdem em conjeturas e propostas histórico-linguísticas dignas de interesse. «Castro Castai(n)ciom / castra itio, ir socorrer-se em abrigo; de que “Casta são” (in Abel Joaquim Marques, “Um grão de areia”, pag. 24, editora UNICEB – Brasil – 1990); > Castaicion > Castreição Casteiçom Castreiçam > Crasteição > Qasteiçam > Casteição» (in Albertino Marques, Casteição, ed. Câmara Municipal da Meda, 2000).

O seu primeiro foral foi-lhe outorgado pelo Rei Povoador, D. Sancho I, em 30 de julho de 1196. D. Afonso II reafirmou-lhe o foral em 11 de novembro de 1217, e nova confirmação recebeu depois de D. Sancho II em 1234.

No século XVI o prestígio do concelho de Casteição, que incluía a freguesia de Outeiro de Gatos, começa a decair, até que o Decreto 23, de 16 de maio de 1932, extingue a autarquia e integra-a no concelho da Meda, ficando, entretanto, a pertencer à comarca de Trancoso.

Sobre a importância desta verdadeira e pouco conhecida “jóia histórica” vale a pena ver o que dela se refere nas obras: “Terras da Meda – Natureza e Cultura”, do Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues; “Casteição – Contributo para o estudo da história e da arqueologia” do Dr. Albertino Marques, e “O Concelho da Meda – 1838/1999”, do Dr. Jorge Lima Saraiva.

Bibliografia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Prova_e_Casteiçao

MARQUES, Albertino; Casteição – Contributo para o estudo da história e da arqueologia de Casteição; Edição Câmara Municipal de Meda, 2000.

RODRIGUES, A. Vasco; Terras de Meda – Natureza, Cultura e Património; Edição Câmara Municipal de Meda; 2ª Edição; 2002.

SARAIVA, Jorge António de Lima; O Concelho de Meda, 1838-1999; Edição Câmara Municipal de Meda; 1999.